Por Ana Paula Carvalho, Analista de Patrimônio Cultural no IPHAN, Brasil
Círio de Nazaré. Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Pará. Fonte: Dossiê IPHAN
A museologia social no Brasil tem se desenvolvido significativamente ao longo das últimas décadas, estabelecendo-se como um campo essencial para a promoção da inclusão social, democratização do acesso à cultura e preservação das identidades coletivas. Este avanço deve-se, em grande parte, às políticas culturais implementadas a partir de 2003, com a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva e Gilberto Gil, que proporcionaram um ambiente favorável para a criação de programas como os Pontos de Memória e a valorização das práticas museológicas comunitárias.
O contexto político coincide com o fortalecimento das Políticas Federais de Patrimônio Cultural Imaterial. Os museus locais têm sido espaços democráticos onde as comunidades e povos reafirmam sua cultura e engajamento social, amplificando a voz e o alcance de suas práticas e experiências identitárias e patrimoniais. O direito à memória ganha força e representatividade não só no campo museal, mas também nas políticas patrimoniais.
Escolhi a Universidade Lusófona para realizar minha pesquisa de doutorado em Sociomuseologia pela relevância histórica e contemporânea desta instituição no cenário museológico internacional, especialmente no que tange ao direito à memória, identidade, diversidade ideológica, étnica e contra hegemônica. A Universidade Lusófona, localizada em Lisboa, Portugal, tem sido pioneira na consolidação da Sociomuseologia como uma Escola de Pensamento e prática museológica que enfatiza a função social dos museus e a participação comunitária sob diversas formas.
Desde os anos 1980, a Lusófona promove um intercâmbio intenso com o Brasil, permitindo uma rica troca de conhecimentos e experiências entre os dois países. Este diálogo fortalece as práticas museológicas e patrimoniais em ambos os contextos, contribuindo para a formação de profissionais altamente capacitados e comprometidos com a transformação social através dos museus.
Além disso, o curso de doutorado em Sociomuseologia da Universidade Lusófona oferece uma abordagem interdisciplinar e crítica, essencial para compreender as complexas relações entre museus, patrimônio e sociedade. O programa, endossado pela Cátedra UNESCO “Educação, Cidadania e Diversidade Cultural”, prepara profissionais não só para atuar em museus, mas também para se engajar com as comunidades, promovendo a inclusão social e valorização das diversas identidades culturais, garantindo a sustentabilidade e proteção do patrimônio cultural imaterial.
A trajetória da Universidade Lusófona, com sua ênfase na descolonização do pensamento museológico e na função social dos museus, ressoa profundamente com os princípios que guiam minha atuação no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) no Brasil. Como analista de patrimônio cultural no IPHAN, com foco na gestão do patrimônio cultural imaterial e na educação patrimonial, reconheço a importância de aprofundar meu conhecimento teórico e prático nesta área para contribuir de forma mais eficaz com a preservação e valorização do patrimônio cultural imaterial brasileiro.
Portanto, a realização de um doutorado na Universidade Lusófona não apenas aprimorará minha formação acadêmica e profissional, mas também me permitirá desenvolver estratégias que valorizem e protejam o patrimônio imaterial de maneira inclusiva e democrática. Considerando a função social do IPHAN, a pesquisa visa colaborar com o IPHAN enquanto estrutura diversa formada de pessoas que valorizam cada vez mais a escuta, a partilha, a comunicação e a representação social, com respeito social, cultural, étnico e territorial, junto a cada povo, comunidade, grupo e bem registrado (ou com pedido de registro) como patrimônio imaterial.
Este enfoque é essencial para garantir o protagonismo das comunidades detentoras dos saberes, fazeres, ofícios e celebrações no Brasil. A pesquisa nesta área pretende contribuir para a construção de políticas públicas mais eficientes e de base comunitária, fortalecendo o direito à memória e à preservação das identidades culturais locais.
Minha decisão de seguir esta trajetória acadêmica reflete um compromisso com a continuidade e o avanço das práticas e políticas de educação patrimonial e gestão do patrimônio cultural imaterial, não só no Brasil, mas em um contexto global. Reafirmo a importância da formação de redes locais, da cooperação internacional e do intercâmbio de conhecimentos, memórias e narrativas para o fortalecimento do patrimônio cultural como um movimento vivo, baseado em pessoas, memórias e identidades diversas e complexas. É essencial considerar o território e as dinâmicas territoriais, geográficas, econômicas, sociais e políticas que todos nós, profissionais de museus e patrimônio, enfrentamos, assim como os protagonistas dos bens registrados.
Gostei de conhecer um pouco de sua trajetória e de seus interesses de pesquisa. Como responsável por um projeto de pesquisa longo sobre as bonecas do povo Iny-Karajá, patrimônio imaterial do Brasil, tenho o maior interesse em conhecer mais sobre sua pesquisa. Pode me escrever? manuelin@uol.com.br Abraços Manuelina Duarte